Emanuel

05:25

Mudar para outro país é uma coisa louca. Para mim esse processo tem sido uma montanha russa de sentimentos. Eu gostaria de poder dizer que esse processo é um mar de rosas, mas não é.
Especialmente nesta fase difícil em que o Brasil se encontra, eu vejo muitas pessoas comentando como gostariam de se mudar para a Europa ou EUA e têm idéias românticas de como seria essa vida no exterior. Pois eu digo aqui com toda a honestidade: mudar de país não é para todos.


Você precisa ter uma boa base do lado de lá, como amigos, algum familiar, pessoas com quem você pode contar e não ficar totalmente sozinho, pois vai chegar a hora em que você vai penar e vai penar MUITO. Sozinho é quase impossível superar isso.
Eu me considero uma felizarda por ter tanto suporte deste lado do oceano. Tenho um marido hiper dedicado, uma família presente e amorosa e alguns amigos. Nunca precisei sofrer sozinha, graças a Deus.


Há dois meses eu arrumei um trabalho em tempo integral numa loja. Eu amo esse trabalho, mas ao mesmo tempo, esse tem sido um dos maiores desafios da minha vida. Não pelo trabalho em si, pois trabalhar em um loja não tem segredo, né gente?! Mas pelo fato de eu ter que aprender tudo quase do zero, usando a minha terceira língua (Holandês) que não é lá grandes coisas. Nas minhas duas primeiras semanas eu chorei quase todos os dias, mas o meu terceiro dia, especificamente, foi MUITO difícil! Além de chorar litros, tive até umas crises de ansiedade. Então a minha sogra ligou para mim e conversou muito comigo, me consolou, me deu apoio e orou por mim. Isso me deu um sustento incrível! Percebe o que eu quero dizer quando falo sobre ter um bom suporte no país aonde você quer morar?


Enfim, mesmo com todo esse suporte e apoio, eu ainda passo por uns bons perrengues. Saudade do Brasil eu não sinto, não. Às vezes sinto falta da comida e morro de uma saudade sufocante das minhas irmãs, dos meus sobrinhos e da minha melhor amiga (com quem eu converso todos os dias pelo whatsapp :-D ). Mas o que eu sinto muita falta é de ser entendida e poder entender tudo o que acontece ao meu redor; de não precisar pensar e quebrar a cabeça para fazer as coisas mais simples da vida como ir ao supermercado, ao banco, pegar ônibus; de fazer piada com meus colegas de trabalho e eles me entenderem e de ter conversas mais profundas e falar sobre assuntos mais inteligentes e "difíceis" (vai demorar um tempo até eu conseguir fazer isso em Holandês).
Parece bobagem, mas isso pode me deixar muito deprimida por vezes e me faz sentir muito sozinha. Sabe quando as coisas mais simples da vida se tornam os seus desafios diários? Então, bem vindos ao meu mundo.


Nos últimos dias eu tenho vivido o baixo do meu "altos e baixos". Talvez até por essa razão eu voltei a escrever, para ver se de uma forma ou de outra eu consigo processar essa fase. A frustação se torna quase sufocante, o cansaço de se esforçar por aprender uma língua, tentar viver, trabalhar e construir uma vida usando essa língua se torna consumidor. As pessoas me perguntam se está tudo bem e eu sempre respondo: "sim, mas eu estou cansada na minha cabeça." Soa estranho, mas é verdade. Às vezes eu me sinto tão exausta "na cabeça" que eu não consigo pensar direito nem em Português.



Anyway, ontem eu estava no ônibus, a caminho do meu trabalho e já me preparando para um dia agitado e de muita luta para falar e entender Holandês, orando e ouvindo "músicas de Jesus" quando começou a tocar "Tributo a Yehovah" do Adhemar de Campos. Eu comecei a pensar em todas as coisas pelas quais eu posso ser grata a Deus.
É fácil se afogar em auto piedade, miséria e sofrimento e nessas horas é difícil forçar o coração a ser grato.
Eu tenho muito temor em dizer que "Deus falou comigo" porque eu não acredito que essas coisas sejam tão banais como querem fazer a gente acreditar hoje em dia. Ouvimos muito no meio evangélico frases como: "Deus me disse isso..." "Deus me disse aquilo..." "Deus tá mandando eu fazer isso ou aquilo..." e vocês conhecem a ladainha.
Mas eu tive uma forte convicção sobre: "Você está exatamente aonde Eu quero".
Difícil ou não, sofrido ou não, cansativo ou não, a convicção de que eu estou exatamente aonde Deus quer, me faz levantar do pó e seguir em frente. Com joelhos fracos, passos lentos, mas sigo em frente. Este é o plano de Deus para mim, é a vontade Dele para mim e não há conforto maior do que esse.
Sentada naquele ônibus, em algum lugar no inteiror da Holanda, eu respondi, ainda meio chocada com a intensidade daquela convicção: Se é assim, então, eis me aqui, Senhor. Só peço força para prosseguir. Me entrego ao Teu plano.
Foi algo tão forte e profundo que eu comecei a chorar ali mesmo. Não tinha como segurar as lágrimas.
Emanuel.
Deus estava ali comigo.
Ainda bem que eu era a única passageira no ônibus... hahaha
Fui para o trabalho com o coração leve e grato. Isso quer dizer que meu dia foi fácil? Não. Meu dia não foi nem de longe fácil. Mas sabe de uma coisa? O fato de que Deus está comigo e que eu estou aonde Ele quer que eu esteja não quer dizer que tudo vai ser fácil, cor de rosa, lindo e maravilhoso. Quer dizer que SABER que Ele está comigo e que Ele tem um plano é o suficiente. Sigo em frente, tropeçando, caindo, levantando, andando devagar ou correndo. Olho para cima, vejo o que não se pode ver, fixo os meus olhos no que é eterno, respiro fundo e continuo.
Emanuel.

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